O trem da vida
Os escândalos em torno dos carteis industriais devem ter
aberto os olhos dos brasileiros para as soluções milagrosas, lobbies e esquemas
que no Brasil têm criado custos absurdos, mais ainda quando as decisões não
seguem critérios adequados de análises, pesquisas, prioridades e opções técnicas.
A boa e honesta Engenharia brasileira está contaminada. Sua
fragilidade cria o voluntarismo técnico, argumentos levianos e decisões
deploráveis, prejudicando tudo e todos, desde o contribuinte até o mais humilde
usuário.
Qualquer grande projeto
precisa ser lastreado por inúmeros estudos de alternativas e na opção por uma
delas seguir uma sequência de mais estudos, pesquisas, anteprojetos, ensaios,
avaliações, debates com a população, as pessoas atingidas pelas obras e
finalmente a construção de forma tão rápida quanto possível (nada pior do que
uma obra excessivamente demorada). Finalmente, tudo feito vem a operação, os
cuidados, as boas equipes operacionais, ferramentas otimizadas etc.
No ziguezague financeiro e econômico do Brasil e do Mundo a
cautela é essencial. Já passamos por períodos extremamente desastrosos por
efeito de planos e decisões mal feitos. As crises do petróleo implodiram o
Brasil Maravilha, quando nossas autoridades estimaram mal suas consequências.
Os exemplos da década de setenta deveriam ter ensinado
nossos governantes. Vimos nesses anos após 1983 uma sequência raramente
interrompida de ausência de lógica. Avançamos, graças à liberdade de
comunicação e agora por efeito das redes sociais e o mundo novo da tecnologia,
falta alguma coisa, contudo, e isso talvez seja o resultado dos traumas e
vícios adquiridos nessas décadas.
No meio técnico vemos e ouvimos profissionais simplesmente
querendo isso ou aquilo, coisinhas de bilhões de dólares...
Não é assim, não pode ser assim num Brasil onde há muito a
ser feito a favor da Educação, Saúde, Segurança etc. do povo brasileiro.
Precisamos de uma escala de prioridades e valores, estratégias e metas, acima
de tudo recursos e determinação para a construção do comportamento e saúde
física e mental de nossa gente.
Trens? Metrôs?
Alguém nessa altura dos acontecimentos se sente seguro do
que nossas autoridades propagam?
Infelizmente as dúvidas éticas são monumentais, precisamos
ganhar tempo e transparência total para podermos “votar” numa ou noutra
solução.
No transporte coletivo urbano, em Curitiba, pelo menos,
podemos esperar alguns anos aproveitando-os para aprofundar estudos e
preparativos para sistemas complementares. De imediato pode-se fazer muito para
o aprimoramento do transporte coletivo com ônibus.
Algo mais?
Com certeza um anel, se possível em VLT para aproveitar ao
máximo circuitos elevados e túneis caros, mas necessários, criando uma solução
que reduzirá a demanda pelos sistemas atuais em trechos congestionados.
Mais ainda? Com certeza, automação, tele monitoramento,
operação online, boa tecnologia para os veículos, ampliação da segurança dentro
e fora dos ônibus, boas calçadas, segurança para os pedestres etc.
Ou seja, não é momento para entrar em projetos federais, de
onde o dinheiro pinga com critérios mais políticos do que técnicos. A propósito,
nossos políticos fariam muito pelo povo que representam se reduzissem as
atribuições federais e promovessem uma reforma fiscal justa, inteligente, radical
e que viabilize as cidades brasileiras. Vivemos num Brasil surrealista que
estimula a passividade e inibe o autogoverno.
Como dizem os mineiros, que trem complicado arranjaram para
o Brasil...
Cascaes
13.8.2013